Aprendendo a aprender

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Estou fazendo o curso Learning How to Learn: Powerful mental tools to help you master tough subjects da University of California (San Diego) com  Barbara Oakley e Terrence Sejnowski (Neurobiologia computacional). O curso é gratuito e oferecido pelo Coursera.

Fiz um resumo pessoal do curso para aprender um pouco mais e, quem sabe, ajudar outros a entender como estudar e aprender melhor. Minha intenção não é tratar de tudo o que o curso trata, mas de algumas partes específicas que me chamaram a atenção. Talvez eu faça um segundo post à medida que aprender mais. :) 

Técnicas para melhorar a memória e treinar seu cérebro

Especialmente para assuntos abstratos e/ou difíceis

Repetição

O conhecimento precisa sair da memória de trabalho e ir para a memória profunda.

É melhor repetir diversas vezes ao longo de dias diversos do que repetir várias vezes no mesmo dia (que é uma técnica muito difundida, vide a tabuada).

Dormir

É preciso dormir pra poder eliminar as toxinas do cérebro (é pior ficar sem dormir). Ao dormir você também permite que problemas complexos sejam resolvidos. Se combinar isso com o “modo focado”, melhor ainda! Você acaba aumentando as chances de sonhar com o que precisa aprender e, assim, consolidar as memórias.

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É bom valorizar o sono. Além de te ajudar a aprender, te ajuda a não dormir na hora errada.

Aprender fazendo

Participação ativa faz aprender muito mais do que a passiva (duh, isso é tão óbvio que é até triste de escrever).

Refletir mais

O cérebro precisa de um tempo para assentar o que você está querendo entender / aprender. É importante deixá-lo descansar através de reflexões, ao invés de foco “direto”.

Parar de pensar

Exercícios, como corrida ou caminhada, são enormes aliados nessas horas. Aumentam a memória e a habilidade de aprender. Parece mentira, mas não é. Parar de pensar vai te ajudar a aprender.

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Quem sabe um passeio tão desafiador quanto o que deseja aprender?

Alguns fatos científicos importantes

Seu cérebro não é sempre o mesmo

Uma ideia fixa muito forte que tínhamos era de que neurônios eram fixos, que não nasciam novos neurônios ao longo da sua vida. Mas evidência científica prova o contrário: que ao longo da vida e com estímulo, não somente novos circuitos se formam, mas também novos neurônios nascem.

A memória “de trabalho” é muito curta

Você só tem quatro “espaços” na sua cabeça pra guardar conhecimentos de curto prazo, como quando está tentando aprender algo. Separar em “pedaços” o que quer aprender (veja abaixo) é muito importante para conseguir “aprender melhor” aquilo que deseja, especialmente se for algo muito difícil.

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Juntar o conhecimento em “pedaços” é o ideal para conseguir aproveitar melhor seus “espaços” de conhecimento.

Não se iluda com técnicas ineficientes

Não aceite soluções dos outros. Você precisa experimentar e fazer por vocês mesmo. Somente olhar soluções dos outros não adianta (por isso aula de cursinho é ótima, mas você precisa fazer o trabalho sujo).

Um clássico exemplo é sublinhar ou usar caneta marca-texto em livros. Não só é ineficiente como pode ser piorfazer isso: executar o movimento pra lá e pra cá com as mãos e sublinhar muito pode te dar a falsa ideia de que aprendeu (oras, afinal você sublinhou muito!). Procure primeiro as ideias primeiras principais e depois use o marca-texto: uma frase ou menos por parágrafo. Fazer notas na lateral da página, no entanto, é uma ótima ideia para internalizar os conteúdos!

Esse assunto é bem interessante e, caso queira conhecer melhor, veja os estudos do Jeffrey Karpicke sobre Illusions of competence.

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Observar o conhecimento de alguém é somente um dos passos para entender como fazer. O resto é realmente com você.

“Chunking” (criando “pedaços”)

Tem algo muito interessante que é abordado no curso sobre como a memória funciona.

Um “chunk” é uma rede de neurônios que se forma quando nos esforçamos para aprender algo, um “pedaço” do conhecimento.

“Decorar” algo é como criar uma peça de quebra-cabeça redonda, que não tem partes encaixáveis. Ou seja, é possível criar um “pedaço” sem entender (conectar) o assunto, mas esse “pedaço”, por não se encaixar com outros, ficará como que “à deriva” e será muito mais difícil lembrar deste conjunto de informações. O ideal é sempre conectar, fazer relações do “pedaço” que se quer aprender com outras informações.

Como criar seus “pedaços”

Quando se inicia o estudo de um assunto ou a prática de uma nova atividade, podemos formar “mini-pedaços”, subdividindo algo complexo em pequenas tarefas. Ao aprender a tocar uma música no violão, por exemplo, podemos ver alguém tocando, também tocar as notas separadamente e, então, praticar a música.

Passo 1: Concentre-se

Você está criando novos caminhos mentais e precisa se esforçar para ligar esses caminhos a outros caminhos. Então concentre-se de verdade.

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Não adianta tentar fazer 1 milhão de coisas ao mesmo tempo. Separe um tempo para aprender.

Passo 2: Entenda a ideia

O primeiro passo é verdadeiramenteentender o que você está tentando aprender. Não adianta memorizar, somente, pois um “pedaço” bem formado é aquele de que você vai conseguir se lembrar depois. E, pra isso, você precisa entender (ter aquele momento “Aha!”) e depois tentar entender sozinho. Muitas vezes, no pré-vestibular, tive a sensação de que a aula era tão fácil, mas tão fácil, que seria muito tranquilo ser aprovado. Doce ilusão: uma coisa é entender e ter um momento “Aha!” e outra é conseguir conectar isso a uma rede pessoal sólida que me permita lembrar posteriormente o que aprendi.

Quer um referencial pra saber se realmente aprendeu algo? Tente resolver um problema daquele assunto sozinho.

Para ajudar nesta etapa, um importante exercício é relembrar o que se estudou. Se conseguir fazer isso em um ambiente diferente do seu ambiente de estudo, melhor ainda!

Passo 3: Contextualize

É necessário entender quando usar e quando não usar aquele “pedaço”. Usar uma ótima ferramenta para um problema onde ela não se encaixa não faz sentido, como querer apertar uma porca com chave de fenda.

É a prática que leva a isso: que não só o “pedaço” esteja “sólido” mas que também seja acessível por muitos caminhos diferentes. Por isso é necessário compreender, dentro do seu contexto mental, onde aquele “pedaço” se encaixa na hora de resolver problemas. No caso de livros, por exemplo, você pode olhar os capítulos e entender a ideia geral de cada “pedaço” de conhecimento para formar uma “ideia geral” de onde cada parte do conhecimento se encaixa.

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Você precisa fazer conexões ao invés de ter conhecimentos isolados.

Passo 4: Teste seu conhecimento

Quem não deve, não teme. Se você aprendeu mesmo, vai se sair bem em qualquer tipo de teste. Se não aprendeu, vai ser uma ótima oportunidade de revisitar aquela parte do assunto que não foi internalizada.

Estamos falando aqui de testes pessoais, enquanto estuda, para que se prepare para grandes testes, como um Vestibular ou um concurso.

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Não fuja. Você precisa testar se realmente entendeu, fazendo o “trabalho sujo”.

Ordem simples de como fazer isso

  1. Aprenda os conceitos gerais primeiro: pontos-chave de um bom instrutor, o sumário de um livro, um fluxograma, uma tabela, um mapa conceitual;
  2. Depois, adicione os detalhes: mesmo se alguns detalhes faltarem, você ainda vai conseguir enxergar o plano geral;
  3. Relembre o que aprendeu: desvie a atenção do material e tente lembrar o máximo que puder do que acabou de aprender. Parece idiotice, mas há sólida evidência científica de que funciona melhor. Pasme: nem mesmo desenhar mapas conceituais e fluxogramas é mais importante que tentar se lembrar das ideias principais, no início do aprendizado. Assim você irá conectar esse conhecimento com outros, contextualizando-o e solidificando-o na sua mente;
  4. Teste seu próprio conhecimento. Pode ser com alguém ou sozinho, mas você deve tentar perceber se realmente sabe algo ou se somente conhece a resposta pronta.

Eu reuni aqui uma lista enorme que retirei das aulas, com diversas referências de estudos sobre o que está escrito neste post. É bastante coisa, então não se assuste rs.

Espero que todos possamos aprender cada vez mais e melhor.

Crédito das imagens: Unsplash.

  • Juliana Tessarolo Cunha

    MARQUITO!!
    Nem sabia que vc estava com um blog… adorei o post!! Quero mais dicas pra essa minha memória ruim, que as vezes lê , lê e nao fixa. Muito top!
    PARABENS! Vc sempre escreveu bem…

    bjos

    • Hahaha que massa, Ju. O blog já existe há um tempão, mas o conteúdo desse curso é tão legal que resolvi compartilhar. Vou ser obrigado a fazer o segundo post com a continuação do curso rs

  • Flávio Guerra

    Parabéns e obrigado por compartilhar sua experiência. Amo este assunto e por sinal trabalho com ele (aprendizagem motora claro!), que tbem segue o mesmo princípio, acredite, alunos melhoram a técnica mesmo após um período de ferias sem nadar. forte abraço amigo.

    • Ei Flávio! Com certeza! Acho que qualquer atividade pode se especializar através de circuitos neuronais cada vez “sólidos”. A atividade física, nem se fala. É visível a diferença. Acho que você deveria fazer o curso, vai se amarrar, rs…

  • Pingback: Força, foco e fé: vença a si mesmo - Cérebro eletrônico()

  • Pow marquito. Texto muito bom e dicas melhores ainda. Só fui ver hoje. Nem sabia que vc tinha voltado a escrever há tanto tempo. rsrs

    Muito maneiro, cara! 😉

    • Cara… digamos que eu não tenho uma frequência na escrita rsrs mas gosto de materializar aqui algumas ideias. :)