Você já parou para pensar em como sua maneira de pedir ou supor coisas pode ser um reflexo cultural? Mais ainda: em como isso afeta sua comunicação e, em consequência, suas relações?
Inspirado por um debate fascinante no podcast Stoic Coffee, este post explora a dicotomia entre “questionadores” e “adivinhadores”, uma distinção que pode mudar a forma como interagimos em nossas vidas pessoais e profissionais. Vou pincelar partes relevantes e deixo links ao final para você se aprofundar, se quiser.
Questionadores:
- Abordagem Direta: Questionadores não hesitam em expressar suas necessidades claramente. Por exemplo, um questionador não teria problema em pedir um aumento ou uma promoção diretamente ao seu chefe, considerando essa abordagem como a mais eficaz para alcançar seus objetivos.
- Rejeição como Parte do Processo: Eles entendem que um “não” é apenas uma resposta, não um julgamento pessoal. Isso permite que mantenham suas relações sem ressentimentos, mesmo após uma negativa.
- Comunicação Transparente: Ao serem diretos, eles minimizam o risco de mal-entendidos, criando um ambiente onde as expectativas são claras para todos os envolvidos.
Adivinhadores:
- Comunicação Indireta: Preferem sugerir ou insinuar suas necessidades em vez de articulá-las diretamente. Por exemplo, um adivinhador pode dizer algo como “Seria ótimo ter mais ajuda neste projeto”, esperando que a outra parte ofereça seu suporte sem que ele precise pedir explicitamente.
- Evitando o Desconforto: A principal preocupação é não incomodar ou impor aos outros. Eles acreditam que pedir diretamente algo que pode ser recusado cria um ambiente desconfortável.
- Preservação da Harmonia: Adivinhadores valorizam a harmonia e o consenso. Eles tentam prever e adaptar suas ações às expectativas e sentimentos dos outros, o que pode ser vantajoso em culturas onde o confronto direto é desencorajado.
Exemplos culturais e profissionais
No ambiente de trabalho: um questionador em um ambiente dominado por adivinhadores pode parecer agressivo ou insensível, enquanto um adivinhador em uma cultura de questionadores pode ser visto como evasivo ou não assertivo. Diferenças globais: Em culturas como a americana, onde a assertividade é valorizada, ser um questionador pode ser uma vantagem. Em contraste, em culturas asiáticas que valorizam a sutileza e a abordagem indireta, como a japonesa, os adivinhadores podem se sair melhor.
Aqui no Brasil percebo isso em diversos contextos. Mas um exemplo cotidiano pra nós é em relação a nossos vizinhos de Minas Gerais. Como sou do Espírito Santo, percebo como comum essa diferença entre os capixabas e os mineiros. Em Minas Gerais há uma cultura mais forte de Adivinhadores, que valoriza muito o contexto, enquanto no Espírito Santo, uma cultura mais forte de Questionadores, que valoriza a fala direta. Os mineiros irão dizer que os capixabas são “fechados e difíceis”. Os capixabas tendem a dizer que os mineiros “conversam em código” com suas expressões culturais e múltiplas histórias compartilhadas.
Para refletir e desafiar
- Em que momentos você evitou fazer uma pergunta direta para não incomodar alguém?
- Como você reage quando alguém lhe faz um pedido direto? Isso muda de acordo com quem faz a pergunta?
- Refletindo sobre suas interações diárias, você se identifica mais como um “questionador” ou um “adivinhador” em sua forma de se comunicar?
Comunicação é chave
Compreender se você é um “questionador” ou um “adivinhador” pode não apenas melhorar suas interações e sua comunicação, mas também ajudar a navegar melhor pelos diversos cenários sociais e profissionais. No contexto de onde surgiu esta discussão, a autora de uma postagem diz que (tradução livre minha):
O problema é que os comportamentos do Adivinhador só funcionam entre um subconjunto de outros adivinhadores -com aqueles que compartilham um conjunto bastante específico de expectativas e técnicas de sinalização social. Quanto mais longe você estiver de sua própria família, amigos e subcultura, mais terá que adotar o comportamento de Questionador. Caso contrário, você passará a vida em uma nuvem de indignação moderada (no ritmo dos fãs de Moomin) pela “falta de noção” das outras pessoas.
Convido você a explorar essas dinâmicas em sua própria vida e a considerar como pequenas mudanças na maneira de comunicar podem levar a grandes melhorias nas relações.
Referências:
Para uma visão mais aprofundada, recomendo a leitura deste artigo instrutivo no The Guardian e a discussão original em Ask MetaFilter.